quarta-feira, 29 de março de 2017

Quero ser fit, e agora? #8

“Lutar contra a Bulimia”

Olá meus queridos!
Esta semana o tema da rubrica é um pouco diferente do habitual. Não há receitas. Há, sim, parte da minha história, um lado negro que marcou (e vai marcar para sempre) a minha vida. Vou expor me como nunca o fiz. Vou contar vos um segredo que há muito tenho guardado. Aliás, vai ser um choque para muita gente porque somente 3 ou 4 pessoas têm conhecimento deste segredo da minha vida (que vai deixar de o ser a partir deste momento). Pensei muito antes de vos falar sobre o que passei. Só agora ganhei a coragem para falar abertamente sobre isto (sempre é mais fácil escrever do que falar pessoalmente). O outro motivo pelo qual decidi escrever sobre o assunto foi o facto de hoje em dia ver muito presente nas redes sociais meninas que sofrem ou sofreram do mesmo.
Acho que já perceberam, não é verdade? Sim, lutei contra uma bulimia.
Começou por volta de Novembro/Dezembro de 2015. Na verdade, não sei dizer com certezas, porque quem vive com uma doença destas não tem consciência de quando começou exactamente. Tive noção que tinha um problema por volta dessa altura. Mas perguntam me vocês “Mas por que raio foste fazer uma coisa dessas?”. Agora tenho noção que foi uma verdadeira parvoíce mas na altura eu nem pensei nisso. Não se pensa nisso sequer. 

Sempre soube o que era a bulimia e já tinha ouvido muitos casos de raparigas que tinham passado por isso. Mas nós só achamos que os outros é que passam por esse tipo de coisas. Até essa altura andava super feliz, motivada com os treinos, continuava a fazer uma alimentação saudável, andava de bem com a vida. De repente, isso mudou radicalmente: sentia me em baixo, parecia que o meu esforço não era recompensado e o espelho cismava em mostrar sempre o mesmo. E não era só isso, confesso. Achava que nunca ia ser suficientemente boa para alguém, que assim nunca ninguém ia olhar para mim e queria muito ter um aspecto diferente para alguém um dia gostar de mim. Constantemente ouvia comentários de que X tinha um corpo assim, um rabo assado… Não digam que não, magoa ouvir isso. Magoa saber que por muito que faças nunca vais ser suficiente nem a escolha daquela pessoa. E tudo se transformou num caos, sentia me frustrada. Queria ir treinar mas por outro lado não, queria comer mas se comesse ia engordar. Até que chegou o dia em que comi compulsivamente e vomitei tudo o que tinha comido. Fiz isto um dia, dois dias, três dias… 
Achava que assim podia comer e como ia vomitar não ia sentir aquele sentimento de culpa de ter comido um bolo ou um chocolate. Chorei compulsivamente depois de ter feito isto. Tornou se um vício. Não era algo que fazia todos os dias mas já não conseguia passar 3 dias sem vomitar. Chegou a um ponto que já não conseguia evitar, o meu organismo já estava habituado. Só que este hábito segui caminhos mais extremos. Parei de vomitar por comer de forma compulsiva, passei sim a vomitar a alimentação saudável que eu fazia. Queria a todo o custo um corpo mais magro e burra fui eu achar que aquele era o caminho certo. Não perdi peso, na verdade tinha alturas em que oscilava muito. Evitei ao máximo vomitar quando tivesse gente em casa, em frente aos amigos ou quando tinha jantares fora de casa. Mais importante, não podiam ouvir nem desconfiar de tal coisa. Numa fase inicial, nunca se tem a consciência que se tem uma doença destas. Nem apelidamos de doença sequer. Mas chegou o dia em que tive que pensar naquilo que andava a fazer. As consequências para mim e para a minha saúde não eram boas. Inflamações, problemas dentários, problemas respiratórios, cardíacos! Porra, eu não quero morrer! Se prolongasse o hábito de vomitar sempre que comia ia pôr em risco a minha vida e morrer é coisa de que tenho pavor. 

Decidi contar a uma pessoa que na altura era da minha confiança e que me disse das maiores brutalidades. Na verdade, acho que foi o choque das palavras que me levou a procurar ajuda e a ter coragem para contar. 
Queria muito contar à minha pessoa, mas o medo de a desapontar e me julgar foi maior que eu. Tinha medo de a desiludir, que me achasse uma fraca. Aliás, ela só ficou a saber da minha doença há dois dias.

Procurei ajuda profissional, mediquei me e tentei curar me de um vício que pode ser mais forte que nós. O que me ajudou a superar? Ocupar a cabeça e o meu tempo com aquilo que realmente me fazia feliz: que era treinar. Mas treinar com peso e medida, nada de excessos e tive que reaprender a ver os alimentos como meus amigos. Ao longo desses meses a minha maior preocupação era esconder a doenças dos meus amigos, da minha família. Quando tivesse com eles tinha que conseguir disfarçar ao máximo a minha tristeza e frustração. Achei que tinha conseguido mas pelos vistos andava enganada. Aliás, é o que esta doença mais me fez: foi enganar me! Com a minha recuperação aprendi a valorizar muito o amor-próprio e o espelho e que não devo mexer um dedo mindinho por ninguém que não mereça a não ser que tenha a certeza absoluta que o merece; que devia mudar por mim e nunca, mas nunca, por ninguém. Por conselho profissional, tive que me afastar da minha página porque a minha relação com a comida estava a ser obsessiva. Foram uns meses duros, principalmente porque escondi este problema de muita gente. Depois disso tive duas recaídas mas actualmente estou totalmente “curada”. Curada entre aspas porque quem vive esta doença uma vez, vive com ela a vida toda, mais não seja as memórias que dela ficam. 

Hoje, já falo abertamente sobre o assunto, não é algo que me assombre. Estou muito feliz, sou uma mulher bem resolvida, não tenho rancores, vivo num corpo que adoro e que me faz feliz! Dou o máximo todos os dias para ser feliz e foi por isso que resolvi partilhar esta história com vocês, que se calhar passaram pelo mesmo, ou conhecem alguém que passou por uma bulimia! Não deixem que a doença vos tire as forças e nunca deixem de acreditar na vossa força para ultrapassá-la. Eu tomei a má decisão de a ultrapassar sozinha mas não comentam o mesmo erro. Peçam ajuda, contem aos vossos amigos! Com ajuda e apoio é muito mais fácil! Desabafar torna tudo mais fácil. A todos os que me são próximos e estão a ler isto, peço um enorme pedido de desculpas. Sempre é mais fácil escrever do que falar e espero que agora entendam o porquê de nessa época ter andado tão diferente, tão distante.
E não se esqueçam, o amor-próprio é o mais importante!

Beijos, Catarina



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