sábado, 25 de janeiro de 2014

Vamos lá falar de praxes...

Com esta história toda dos jovens trajados que morreram no Meco, ainda vao conseguir acabar com as praxes. Qualquer dia estas são as responsáveis por todos os males do país.
Ora eu fui praxada. No inicio, confesso, nao gostava. Não porque me sentia humilhada, apenas porque nao gostava de ouvir gente quase da minha idade a dizer me o que podia ou nao fazer. No entanto aguentei, queria ver se a praxe era realmente como a pintavam. Queria poder dar a minha opinião, falar da minha experiência. Ainda bem que fiquei.
A verdade é que a praxe não nos vai ensinar a ser melhores pessoas, nem nos vai acrescentar assim tanto.
A praxe ensina-nos a ajudar, a controlar-nos, a não mandar f*der alguém sempre que apetece (acreditem que a mim ensinou-me mesmo isso, porque eu passo-me com muita facilidade!) , a não responder torto para que nos é "superior". E isso é útil ? Sim é. No mundo do trabalho vamos levar muito nas orelhas, vamos aprender a ouvir e a calar.
No entanto, nunca considerei a praxe humilhante. Aliás, se o fizesse não teria passado quase 8 meses com todos os meus colegas que foram batizados. Cheguei sim a recusar-me a fazer algumas coisas , mas mais por orgulho ou por não ter condições para as fazer (por exemplo, ia trabalhar e tinha me esquecido da muda de roupa).
Houve um dia em que apareci na praxe com uma ferida. Não, nao me magoei na praxe. Mas na brincadeira lá dei com a ferida no chão e ela abriu. Nunca mais me esqueço que um doutor correu a universidade inteira á procura do posto médico para que eu pudesse desinfectar a ferida. Outra vez uma colega minha desmaiou, foi logo nos primeiros tempos, chovia bastante. Os meus doutores levaram na as cavalitas ate um café, coberta com uma capa para que não se molhasse e em seguida foram com ela para o hospital. Essa rapariga tem problemas de costas e sempre teve a mania de fingir que nada lhe doía, foi mais umas quantas vezes para o hospital, mas nunca foi sozinha! Tínhamos uma colega cega na praxe, os nossos doutores fizeram-na sentir-se uma de nós e nos pudemos ver como ela se sente no dia-a-dia, eles fizeram uma praxe em que nos vendavam os olhos e éramos guiados por outra pessoa. Tenho a certeza que ela nunca se sentiu diferente.
Os meus colegas que vieram de fora, todos eles encontraram amizade, integração, ajuda, compreensão, no seio da praxe. As nossas diferenças sempre foram respeitadas, nunca fomos ofendidos.
Na praxe conheci gente muito boa, mas também conheci gente que não me diz nada, confesso. Nunca curso tão grande como o meu é difícil gostar de toda a gente. No entanto, tenho a certeza que , cada um dos caloiros do meu ano que foi orgulhosamente batizado, se vai lembrar de muitos momentos que passamos enquanto curso, da mesma maneira que eu me vou lembrar. Independentemente de gostarmos uns dos outros ou não, aprendemos que temos que ser uns para os outros, porque ali éramos um só.
Lembrar-me-ei sempre das lutas na lama, das guerras de curso, das praxes especiais, da praxe de natal, e tantas outras...
Também tive doutores "melhores" e "piores", cada um praxou á sua maneira e ensinou me a lidar com eles da melhor maneira e sempre com respeito. Nunca hei de esquecer palavras como : "são nossos caloiros,já vos adorávamos antes de vos conhecerem" ou  "foram o melhor bloco que eu já vi até hoje".
A verdade é que foram 8 meses que exigiram muito de mim, quer física quer psicologicamente. Mas exigiram por eu QUIS! Podia ter saído da praxe a qualquer altura , mas escolhi ficar, e não me arrependo.
Muitos sapatos pretos eu vi. F*da-se que saudades que eu tenho das parvoices todas que faziamos. Isso não volta mais. Bem diziam os meus doutores: Este vai ser o melhor ano das vossas vidas. E eu, burra, nunca lhes dei razao...
Para o ano vou envergar orgulhosamente o meu traje, vou traçar a capa e praxar, integrar e ajudar os novos alunos, os nossos caloiros.
Como já disse, para mim ser vista a ser praxada não era humilhante, antes pelo contrário: sentia um orgulho enorme cada vez que nos diziam para gritar DIREITO! Estava ali, com tantos outros, a representar o meu curso!









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